Ontem (14/06/2008) aconteceu a primeira edição no Brasil da WNBR (Word Naked Bike Ride). Passeio pelado de bicicleta. Foi na Avenida Paulista, em São Paulo. Agora que participo do movimento da Bicicletada (não confundir os dois movimentos, por favor) não poderia deixar de ir. Afinal quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Levei meu filho até. História pra contar pros netos ele vai ter à beça.

Quantas chances de ficar pelado no meio da Avenida Paulista uma pessoa vai ter nesta vida? Pois é, perdi a minha (primeira) chance. Tive coragem não. Mas é do jogo, afinal o mote é ficar tão pelado quanto você ousar. Fiquei de sunga. Nas costas pedi para a Luciana, que vai me perdoar se esse não for o nome correto, desenhar e escrever isso:


Faltou um sinal de igual aí, mas tá valendo. Quase fui preso porque outdoor tá proibido por aqui. Obviamente não sou a máquina perfeita. Máquina perfeita é uma pessoa mais uma bicicleta. Um motor com cérebro, quer perfeição maior que essa? A emissão de gases depende exclusivamente do consumo de repolho, feijão etc.

O movimento teve a intenção de chamar a atenção para a situação dos ciclistas. Nos sentimos nus no trânsito onde pessoas protegidas por toneladas de metal nos hostilizam porque eventualmente as fazemos perder alguns segundos, perfeitamente recuperados com outros segundos de aceleração, nem precisa ultrapassar o limite de velocidade. Ah, vai ver que essa animosidade vem do fato de que eles não vão recuperar esses segundos, o trânsito tá parado mesmo... Mas a bicicleta passa. E tome agressividade contra os ciclistas folgados. Tanto carro com adesivo de tercinho e não aprenderam a amar ao próximo como a si mesmo. Ok, existem maus ciclistas. Felizmente não existem maus motoristas.

Por que tirar a roupa? Essa gente é doida? Tinha jeito melhor de fazer isso não? Bom, há anos acontece a bicicletada em toda última sexta-feira do mês em São Paulo, na mesma Avenida Paulista. Hoje em dia centenas de ciclistas de todas as idades participam até debaixo de frio e chuva, número que aumenta cada vez mais. Você já ouviu falar? Presumo que meus leitores (poucos e fiéis, o google analytics me avisou) sejam bons entendedores.

Foi muito bom ver a reação das pessoas. Elas olhavam incrédulas. Ouvi mais de uma vez um "nossa, ISSO é São Paulo". Um motoboy explicava o motivo do atraso de seu serviço e começou a gritar quando percebeu que "CARA, ELES TÃO TUDO PELADO!!!". Um transeunte de aparência simples, que provavelmente não sabe o significado da palavra "transeunte", estava de boca aberta, petrificado, chocado, maravilhado. Momentos mágicos.

Aí tem a mídia, sedenta por notícias e por bundinhas de fora. Passei por uma repórter da Globo que estava a pé entre os ciclistas, toda bonitona, até brinquei com ela, algo como "elas podem até ser feias, mas não tem bunda mole aqui não!". Ela viu que muita gente tirou a roupa. Ela viu que haviam mais de trezentas, quatrocentas, quinhentas pessoas. A matéria do Jornal Nacional abre com um "Cem ciclistas na Paulista". As tevês e veículos online reproduziram a versão covardemente mentirosa da polícia de que o único ciclista nu de toda a manifestação foi preso.

Tem também a polícia. Gentil polícia militar. No começo até que estavam calminhos, até que prenderam um dos ciclistas manifestantes, com direito a gás de pimenta e tudo o mais. Tive que cair fora com meu filho para protegê-lo. Fiquem tranquilos, nem assustado ele ficou. Pelo contrário, adorou tudo.

O ciclista preso é o André Pasqualini. Ele é quem pode explicar melhor tudo o que houve. Então, por favor, leiam a versão dele.


Dia 27 de junho, na bicicletada junina, vejo você lá?

Update: no mesmo dia aconteceu uma peladada em Portland. Comparem com a nossa.

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