Bicicleta, parte 1.
Só aprendi a andar aos 21. Toda essa precocidade deve-se a uma infância não muito rica. E a um trauma. Minha primeira bicicleta não era uma bicicleta. Era um triciclo. Tinha vergonha de andar naquilo. Idéia genial de minha mãe. Sempre pensando em minha segurança. Era grande e tinha rodas demais. Uma desmoralização total. Resultado: só andava escondido no quintal de casa. Sozinho e com a luz apagada. Inveja dos meus primos que andavam em duas rodas. Ainda bem que moravam longe e nunca viram meu trambolho. Que a ferrugem lhe seja leve.
Anos de hiato ciclístico.
Aos 21, primeiro bom emprego. Resolvi comprar uma bicicleta. De verdade. Fui incentivado por um colega de trabalho, o Eli. Grande colega, o Eli. Parêntese: No trabalho a turma ficou excitada quando ficou sabendo que Eli trabalharia conosco. Pensavam que Eli era menina. Decepção: era menino. Fecha parêntese.
Comprei uma Montana. Da Caloi. Verde-musgo. 15 marchas. Duas rodas. Cena linda eu e meu pai na praça perto de casa. Um marmanjão segurando outro. Levei uns 2 meses pra aprender a andar em linha reta. 3 pra fazer curva. 5 pra aprender a trocar marcha direito. Até hoje lembro de minha primeira aventura solo pelas ruas do bairro. Saí na contramão. Levei bronca de motorista. Desci até o fim da rua. Voltei na subida. Lógico. 15 minutos de passeio. Quase morri.