Andar a pé em SP é uma viagem. Falta muuuito pra ficar bom, mas pra quem sai muito cedo e chega muito tarde e gosta de observar é bem legal. Hoje ri muito com uma cena no metrô: uma senhora com ar de cansada estava com a cabeça entre as mãos. A posição das mãos dava a impressão de que ela estava tampando os ouvidos para não ouvir a conversa dos rapazes que estavam no banco ao lado. De fato os dois estavam comunicando-se de forma extremamente animada. Só um detalhe: eram mudos.
No mesmo vagão um cego ocupava um dos bancos reservados a deficientes enquanto uma senhora gordinha estava de pé. Ok, ele era deficiente, mas tenho certeza que cederia seu lugar se pudesse ver a senhorinha, afinal era um homem em quase perfeita forma - tava meio gordinho. Relevemos, ou melhor, lamentemos a falta de educação dos demais passageiros que não ofereceram seu lugar.
Na minha estação de destino haviam mais dois mudos. Ontem um rapaz sem uma perna. Outro dia uma moça numa cadeira de rodas elétrica bem esperta (a moça e a cadeira). Legal ver gente disposta a enfrentar as más condições do transporte, mesmo tendo deficiências físicas. Um prato cheio pra bolar várias frases de auto-ajuda. Vou bolar nenhuma não.
Nos trens da cidade acontece uma coisa que considero um absurdo: mal as portas se abrem e os homens lançam-se numa luta desenfreada para sentar em algum lugar. Dá vergonha: um monte de marmanjo sentado e as vovós/senhoras/mulheres/meninas todas têm que seguir a viagem a pé. A mulher conquistou seu espaço na sociedade, mas acabou matando o cavalheirismo. Mentira, é pura falta de educação mesmo. Ou então é tudo pedreiro que trabalha o dia inteiro no sol sem poder sentar, vai saber.
Já tô acabando, só falta falar dos bancos reservados - de novo. A regra é clara: "ausentes pessoas nestas condições (ou seja, grávidas, idosos, com criança de colo e deficientes) o uso é livre". Acontece que o povo parece ter é deficiência de compreensão de texto, porque sempre que as pessoas nestas condições estão ausentes ninguém senta nestes bancos. Ninguém, minto. Eu sento. E percebo o olhar de reprovação dos deficientes em leitura à minha volta. O fato é que a maioria das pessoas acabam destinando só aqueles bancos às pessoas "nestas condições" por pura falta de educação e comodismo. Ontem uma moça ao meu lado fugiu como se eu fosse um leproso assim que um assento "destinado a pessoas normais" ficou vago. Aguardo com ansiedade o dia em que alguém tentar me repreender por isso. Acho que vai ser engraçado.
Vou acabar transformando isso aqui num diário de bordo do que acontece no transporte público. Ontem, por exemplo, o trem em que viajava (aquele que geralmente anda junto à marginal Pinheiros) bateu todos os recordes de velocidade pra tirar o atraso por conta de um problema que ocorreu à tarde. Saia faísca de tudo quanto é lado. Mas deu pra perceber que se o governo cumprir a promessa de colocar mais trens e tentar aplicar o padrão de velocidade do Metrô a esses trens a coisa vai ficar um pouco melhor. Aliás é esse o migué que vão aplicar pra dizer que a malha metroviária foi de sessenta quilômetros para duzentos e porrada em poucos anos.
Vai tudo sem revisão, do jeito que ficar ficou, falou? Foi.
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